quarta-feira, 9 de abril de 2008
Do meu local, saúdo todos os locais. Da minha janela, todos os transeuntes. Da minha aldeia, todas as aldeias. De mim, a Humanidade. O que está no alto vê, geograficamente. O que está dentro, profundamente. O que está por cima domina. O que está por dentro é hospede. O movimento histórico é uma queda acelerada uniformemente no plano inclinado do tempo. O tempo dinheiro, os espaços privativos, a Humanidade periférica: milhares de milhão na berma da vida e do ser. A Globalização divisão da Terra por um: Terra nenhuma para o local e toda para o global.
A todos, aos companheiros do estradão da História, à elite eleita pela vida e aos eleitos elegidos por Deus, aos mortos e caídos na berma, aos atropelados, às crianças que morrem secas de seios secos, aos órfãos do ser e do ter, a todos, para quem não há Shakespeare, Deus, Kant, Marx, saúdo. E a ti, Humanidade, minha contemporânea, extemporânea, e a vós, conterrâneos, estrangeiros na própria terra, e concidadãos, em terra de súbditos, saúdo, igualmente. Cidadania e cidadão? Como, se as cidades estão vazias, os subúrbios dormitórios e a ágora sem polémica? O homem universal? Mas alguém sabe de si?
Em verdade, em verdade vos digo: antes da chegada do citoyen du monde, todos serão escravos pós-modernos. Os empreiteiros do global sempre foram os impérios: local onde os locais desaguam: todos os caminhos vão dar a Roma, toda a pirataria a Londres, todos os mares a Lisboa, toda a barbárie a Berlim, todos os caminhos, mares, céus, barbárie, pirataria e petróleo a Washington. A distância entre mare nostrum e full spectrum dominance é a distância entre Roma e Washington. Depois, tudo se esquece e amanhã a História cantará a americanização como hoje, com excepção de Astérix e Obélix, canta a romanização. As histórias aos quadradinhos são bem mais verdadeiras do que a livre. A História tem e cumpre o seu destino: o império global e a dialéctica entre local e global o seu motor. Os homens: obreiros. O intervalo entre os impérios é feito de guerra para chegar a eles. A paz vem com os impérios: pax romana, pax americana. A História, como construção do império global, consummata est: em Washington, a mais ocidental das Babilónias. Em nome da democracia.
E tu, Sócrates, que não és de Atenas nem de Coríntio, de onde és? Atenas histórica deu-te a cicuta, Atenas eterna a eternidade.
domingo, 6 de abril de 2008
A propósito da passagem de cinco anos sobre o início da Guerra do Iraque, a 20 de Março de 2003, e da Cimeira das Lajes, que a precedeu, a 16 de Março de 2003, anda para aí gente a saber do peso da consciência de Barroso, de Bush, de Aznar e Blair e dos apoiantes da Guerra. O poder não tem consciência, porque consciência é inacção. Barroso dirá: queria era ver-vos no meu lugar. Uma coisa é estar no palco da história (poder) outra estar na assistência (criticando ou aplaudindo). O ponto bem lhes diz: não foi isso que prometestes, mas fazem ouvidos de mercador. Não é Sócrates? Sem esquerda por onde ir, o homem meteu-se a direito pela primeira rua à direita que lhe apareceu pela frente.
Os apoiantes entusiastas da guerra (bem piores do que Barroso), que ontem gritaram não ao imperialismo e ao social-fascismo, andam por aí e para aí a dizer coisa sem coisa, e a escrever coisas e loisas, não se dando conta que, apesar da emigração oportuna e oportunista no espectro político, continuam igualzinhos ao passado. Quando se abre a especialidade de psiquiatria política? Enquanto e não, por que razão o (im)paciente Pacheco Pereira não recorre aos serviços do psiquiatra político Alfredo Barroso?
A História não é dos vencedores, e muito menos dos vencidos, é da História. É de quem vai à frente e de quem a ele se cola. O nosso caso. A Europa descobriu, tarde, que a América substituiu a colonização geográfica pela económica. A Geografia é a base, melhor, as Bases, distribuídas pelo Mundo, para assegurar o económico. A América conquista pelo económico: todo o mundo quer ser América. O exército é a retaguarda. E onde entra só faz fezes.
1- O socialista Jorge Coelho, na linha de outros políticos do centrão, como Ferreira do Amaral, vai assumir um importante lugar de gestão no maior grupo de construção do País – Mota-Engil –, empresa que integra o sector que tutelou enquanto ministro das Obras Públicas. O ministério, longe de ser um sacerdócio político, é o estágio para a gestão empresarial. Li hoje num diário que 50% das empresas privadas têm ex-políticos como gestores. E por que será, se estão muitas vezes em sectores que não dominam? «Para darem continuidade ao trabalho que iniciaram no governo», responde-me Luís Afonso no Bartoon. Economicamente, trocar a vida partidária e a “quadratura do círculo” por um lugar de chefia na gestão da Mota-Engil é muito mais aliciante. O dinheiro nunca é demais. Quando ao défice democrático e socialista, outros que tratem dele.
2- O ministro da cultura, Pinto Ribeiro, na apresentação pública do projecto Ruas da Cultura, em Montemor o Velho, defendeu um estudo sobre o valor económico da língua portuguesa. E como quem descobre uma Índia: já pensaram no «valor económico único» de um autor como Fernando Pessoa? Pergunta que não deixa a resposta em boca alheia: «É possível que Pessoa, enquanto produto de exportação, valha mais do que a Portugal Telecom». Isto contado ninguém acreditava. Com o País pelas Ruas da Amargura, o ministro da Cultura vê em Pessoa o filão que pode levar-nos às Ruas da Fartura. Já agora, por que não pôr Pessoa na Bolsa e fazer uma troca entre o ministério da economia e o da cultura? Manuel Pinho passava para a cultura (não são os nossos escritores os verdadeiros empresários?) e Pinto Ribeiro para a economia (a nossa economia não é um mito?).
3- Paul Ekman, Professor de Psicologia do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, nos EUA, é um expert na detecção de mentiras, graças a uma ferramenta que elaborou – Micro Expression Training Tool (METT) – que como o nome diz detecta a mentira através da análise das micro expressões faciais. Como não podia deixar de ser, Ekman é consultor do FBI e da Scotland Yard. Em entrevista ao Público, de 4 de Abril de 2008, pela sua passagem por Portugal, onde participou no simpósio Aquém e Além do Cérebro, promovido pelo BIAL, no Porto, afirmou que «ninguém votaria num político que não fosse capaz de mentir». Ora aqui está uma janela, como agora sói dizer-se, para lermos atentamente as expressões faciais de Sócrates nas próximas eleições. Contrate-se o homem, já!, para não sermos levados por lorpas, pela segunda vez.
2- O ministro da cultura, Pinto Ribeiro, na apresentação pública do projecto Ruas da Cultura, em Montemor o Velho, defendeu um estudo sobre o valor económico da língua portuguesa. E como quem descobre uma Índia: já pensaram no «valor económico único» de um autor como Fernando Pessoa? Pergunta que não deixa a resposta em boca alheia: «É possível que Pessoa, enquanto produto de exportação, valha mais do que a Portugal Telecom». Isto contado ninguém acreditava. Com o País pelas Ruas da Amargura, o ministro da Cultura vê em Pessoa o filão que pode levar-nos às Ruas da Fartura. Já agora, por que não pôr Pessoa na Bolsa e fazer uma troca entre o ministério da economia e o da cultura? Manuel Pinho passava para a cultura (não são os nossos escritores os verdadeiros empresários?) e Pinto Ribeiro para a economia (a nossa economia não é um mito?).
3- Paul Ekman, Professor de Psicologia do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, nos EUA, é um expert na detecção de mentiras, graças a uma ferramenta que elaborou – Micro Expression Training Tool (METT) – que como o nome diz detecta a mentira através da análise das micro expressões faciais. Como não podia deixar de ser, Ekman é consultor do FBI e da Scotland Yard. Em entrevista ao Público, de 4 de Abril de 2008, pela sua passagem por Portugal, onde participou no simpósio Aquém e Além do Cérebro, promovido pelo BIAL, no Porto, afirmou que «ninguém votaria num político que não fosse capaz de mentir». Ora aqui está uma janela, como agora sói dizer-se, para lermos atentamente as expressões faciais de Sócrates nas próximas eleições. Contrate-se o homem, já!, para não sermos levados por lorpas, pela segunda vez.
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