segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
«E vi no céu outro sinal grande e admirável;
sete anjos que tinham as sete últimas pragas;
porque nelas é consumada a ira de Deus».
[Apocalipse, 15,1]
sete anjos que tinham as sete últimas pragas;
porque nelas é consumada a ira de Deus».
[Apocalipse, 15,1]
O Espírito do Tempo (Zeitgeist) não se vê, pressente-se, mas está por todo o lado e não há ninguém que, a seu modo, não seja por ele tocado. Cada Tempo tem o seu Espírito do Tempo e perscrutá-lo é perscrutarmo-nos e estudá-lo uma espécie de meteorologia e psicologia histórica. E se o tempo meteorológico regula os hábitos e o hábito do nosso corpo, o Espírito do Tempo é o responsável pelo estado e estados da alma. A Civilização, matéria do tempo, cumpre-se e o homem, vencedor ou vencido, o seu obreiro inconsciente. O Espírito do Tempo emerge da vida e da História e, apesar de invisível, espelha-se nas almas, filosofias, religiões e arte. É o vapor do magma civilizacional.
O Natal está próximo. A montra da livraria e o consumismo, não a quadra, recorda-mo. Aproximo-me, entro e percorro os títulos: códigos, cifras, secretum, segredos, sétimos, selos. A proliferação de temas e autores apocalípticos, de profetas e profecias, de esotéricos e esoterismo e de visionários e de visões, acompanhada de superstição, de individualismo, de seitas defendendo um esquerdismo religioso – salvação, já, e neste mundo! –, que invadem a vida, são sinais de um tempo em que a razão foi substituída pela superstição. Incapazes de destaparmos a realidade e sem caminho nem telos histórico a percorrer e a alcançar, eis-nos, racionalmente, incrédulos e, historicamente, perdidos. Sem credo nem ergo sum, somos cada vez mais coisas entre coisas. A pergunta de ontem – de onde vim, onde estou e para onde vou? –, hoje, aparece como ridícula. Apesar de todos estarmos frente a um parede, a correria para o nada não pára. A Civilização é, hoje, uma doença terminal: futuro?, vive um dia de cada vez; segurança?, o terrorismo neoliberal matou-a. A globalização pulveriza os Estados e os direitos conseguidos. A maioria dos Estados são províncias do Estado imperial e de suas ramificações. A irracionalidade chegou à política, contaminando-a com a religião e a ética. O império esconde o imperialismo, sob o argumento metafísico: levar o evangelho democrático a todo o mundo e derrotar o infiel. Mais do que nunca a plutocracia e as máfias, qual Cérbero, governam o mundo, feito inferno. Se o local sem o global é isolamento, global sem local é desenraizamento. Ao desenraizamento natural sucedeu o desenraizamento nacional e cultural. Defende-se a biodiversidade, contudo, a diversidade humana está em perigo.
A impotência, a insegurança, o desalento e o fecho entraram nas almas. O futuro é escuro. Onde está a ciência? Nunca houve tanta ciência como hoje, contudo, ela não é concepção, mas alimento para a tecnologia e nós peças suas. Sem saídas e face ao naufrágio da vida o lema é: salve-se quem puder. A Civilização foi sempre contra a Natureza. Não admira que esteja doente. Estamos todos doentes. Para o fazer esquecer há Coliseus, por todo o lado.
O Natal está próximo. A montra da livraria e o consumismo, não a quadra, recorda-mo. Aproximo-me, entro e percorro os títulos: códigos, cifras, secretum, segredos, sétimos, selos. A proliferação de temas e autores apocalípticos, de profetas e profecias, de esotéricos e esoterismo e de visionários e de visões, acompanhada de superstição, de individualismo, de seitas defendendo um esquerdismo religioso – salvação, já, e neste mundo! –, que invadem a vida, são sinais de um tempo em que a razão foi substituída pela superstição. Incapazes de destaparmos a realidade e sem caminho nem telos histórico a percorrer e a alcançar, eis-nos, racionalmente, incrédulos e, historicamente, perdidos. Sem credo nem ergo sum, somos cada vez mais coisas entre coisas. A pergunta de ontem – de onde vim, onde estou e para onde vou? –, hoje, aparece como ridícula. Apesar de todos estarmos frente a um parede, a correria para o nada não pára. A Civilização é, hoje, uma doença terminal: futuro?, vive um dia de cada vez; segurança?, o terrorismo neoliberal matou-a. A globalização pulveriza os Estados e os direitos conseguidos. A maioria dos Estados são províncias do Estado imperial e de suas ramificações. A irracionalidade chegou à política, contaminando-a com a religião e a ética. O império esconde o imperialismo, sob o argumento metafísico: levar o evangelho democrático a todo o mundo e derrotar o infiel. Mais do que nunca a plutocracia e as máfias, qual Cérbero, governam o mundo, feito inferno. Se o local sem o global é isolamento, global sem local é desenraizamento. Ao desenraizamento natural sucedeu o desenraizamento nacional e cultural. Defende-se a biodiversidade, contudo, a diversidade humana está em perigo.
A impotência, a insegurança, o desalento e o fecho entraram nas almas. O futuro é escuro. Onde está a ciência? Nunca houve tanta ciência como hoje, contudo, ela não é concepção, mas alimento para a tecnologia e nós peças suas. Sem saídas e face ao naufrágio da vida o lema é: salve-se quem puder. A Civilização foi sempre contra a Natureza. Não admira que esteja doente. Estamos todos doentes. Para o fazer esquecer há Coliseus, por todo o lado.