quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A AZIA GRAMATICAL DE MARIA DE LURDES RODRIGUES

Quando me pergunto ou me perguntam por que razão as crónicas não têm como assunto a política local (onde está a oposição?) ou nacional (que me dizes da versão cavaquista socialista?), respondo ou respondo-me: a maioria dos políticos não merece que nos lembremos dela quanto mais uma crónica. Presentemente, não há Política nem ideários, mas economia e os políticos seus agentes e propagandistas. Não há causas públicas, mas sede de protagonismo pessoal. Não é serviço público, mas meio de auto-governo. À volta de cem mil “militantes” dos partidos do centrão (melhor: a sua nomenclatura) impõem nas chamadas directas os dois políticos que, depois, milhões de eleitores terão de escolher sem outra alternativa. O vira político do centrão não deixa de ser uma forma escondida de ditadura. E, se não fossem as repercussões que tudo isto tem na nossa vida, deixá-los-ia, de boa vontade, a falarem sozinhos. Mais: onde está o dito “quarto poder”, quando os media estão mudos, surdos ou governamentalizados? Não admira, assim, que, cada vez mais, sejam os blogues e alguma imprensa regional os únicos espaço de liberdade e de verdade que nos restam.

Se há quem ridicularize o Procurador-Geral da República pelo seu ar, andar e linguagem gestual eclesiásticos, a par da transformação da linguodental surda – s – na palatal sonora – j –, quantos deram conta de que Maria de Lurdes, na sua entrevista à RTP 1 (onde havia de ser?), não se cansou de azedar (mantendo-se, aqui, e justiça lhe seja feita, coerente consigo mesma) o s: sempre que pronunciou a palavra absentista, o azedo veio à tona, assim – abzentista? E se, no primeiro caso – do Procurador –, a causa é fisiológica, no segundo, só pode ser gramatical. Já agora: não concordam que a voz monótona e metalizada de José Sócrates lembra (ou é-o?) um robot? Mas as notícias, melhor a falta delas, sobre Maria de Lurdes não ficam por aqui. Por que motivo, o curriculum oficial da ministra só começa em 1986? Que se pretende esconder? Há a suspeição de que a ministra tivesse sido professora primária. E, se o foi, não seria motivo de orgulho e não de algo a esconder? Os media em vez de bisbilhotarem o que não interessa por que não investigarem e ajudarem a aclarar o importante? (confrontar blogue: Do Portugal Profundo).

Muito da explicação do nosso comportamento desviante encontra-se em desvios na nossa própria vida. Um complexo de superioridade subentende o seu contrário: o de inferioridade. Quem sobe na vida, geralmente, quer apagar os vestígios do tempo em que viveu no rés-do-chão da vida ou no de um primeiro andar de um qualquer prédio. Quem acredita na boa vontade, para não dizermos na competência, de um professor primário que tira o curso de inspector e começa a inspeccionar o secundário? Salvo raras excepções, as mulheres que tiveram algum protagonismo político, em lugar de trazerem o feminino para a política – a humanidade, o afecto, o calor – trouxeram, sim, o masculino no seu pior e para pior: a frieza do mando. Manuela Ferreira Leite e Maria de Lurdes são disso dois bons exemplos.