sábado, 17 de junho de 2006

“Ensinamentos do norte”: este o título de um artigo de opinião do jornal El País, de finais de Abril, da autoria de Jeffrey D. Sachs, catedrático de Economia e director do Earth Institute da Universidade de Columbia e traduzido por News Clips. Vamos, então, aos ensinamentos. O autor abre o artigo com este “pragmatismo”: «Se o mundo gastasse mais tempo a analisar o que verdadeiramente funciona ou não, haveria menos discussões sobre economia». Isto a propósito da questão: «como combinar as forças do mercado e a segurança social». «A esquerda, continua o autor, pede um aumento da protecção social; a direita diz que, ao fazê-lo, debilitaria o crescimento económico e aumentaria os défices que a sustentam». Mas o que nos diz a experiência dos países nórdicos – Dinamarca, Finlândia, Islândia, Holanda, Noruega e Suécia – é que eles não só «souberam combinar a assistência social com níveis de rendimento elevados e com um crescimento económico sólido e a estabilidade macroeconómica» como «alcançaram uma elevada qualidade de governo». O autor faz, em seguida, uma comparação dos dados estatísticos, em vários domínios, entre os países nórdicos e os EEUU, com claro prejuízo para estes. Lemos, ainda, que os impostos nacionais nos países nórdicos são superiores a 30% do PIB e que é a «fiscalidade elevada que mantém, à escala nacional, a atenção sanitária, a educação, as pensões e outros serviços sociais, dando como resultado níveis baixos de pobreza...». E notem, melhor, sublinhem, senhores editorialistas, opinadores e comentadores, defensores de pensamento e sentido único para a História: «Os países nórdicos não são economias “socialistas”, baseadas na propriedade e planificação estatal, mas economias de “Estado do bem-estar”, baseadas na propriedade privada e nos mercados, com serviço público de protecção social». Jeffrey Sachs lembra ainda que: «O importante é que investem fortemente em educação superior e em ciência e tecnologia, de forma que se mantêm na vanguarda das indústrias de alta tecnologia». E quanto à longevidade: «a esperança de vida aproxima-se, nos países nórdicos, dos oitenta anos...». A propósito da esperança de vida, vale a pena recordar “Os suspeitos do costume”, título da coluna de Manuel António Pina, de 10 de Maio de 2006, autor de Por outras palavras, na última página do JN, que, com os seus duzentos caracteres, mais coisa menos coisa, vale o jornal. Face às razões que nos apontam, mas não explicam, para a causa de estarmos na cauda da Europa – envelhecimento da população e a falta de produtividade –, eis o contraditório do cronista: «A idade média dos portugueses (40,6 anos) é inferior à dos finlandeses (41,3 anos), dos suecos (40,9 anos) e dos dinamarqueses (40,7 anos); os 66,3% dos portugueses em idade “produtiva”, isto é entre os 15 e 64 anos, são mais que os suecos (65,7%), os noruegueses (65,9%) ou os dinamarqueses (66,1%); e os nossos idosos são menos (17,2% em Portugal contra, por exemplo, 17,6 na Suécia)». E conclui: Se a causa para o nosso atraso fosse o envelhecimento da população, então, «deveríamos estar melhor do que as melhores economias da Europa». Quanto à segunda causa do nosso atraso: a produtividade. Se não há queixa quanto à produtividade dos trabalhadores portugueses nos vários países do mundo onde estão emigrados, a causa não estará noutro lado? «Não será altura de, por uma vez, pensarmos nas empresas e nos empresários que temos, e nos políticos que temos, em lugar de nos desculparmos sempre com os nossos velhos e os nossos trabalhadores»? Pergunto-me: a Finlândia de que Sócrates fala e quer imitar onde fica? E por que não contratar um primeiro-ministro nórdico que, sem mudar de camisola, nos “norteie”?