sábado, 25 de novembro de 2006

A reposta ao post scriptum do meu artigo Arte e Política tem a caracterizá-la o explicar o antes pelo depois, o persecutório, o substituir a questão central por uma contestação (e ataque) errática lateral e a fartura em adjectivação.

(i) Contextualização. Ao tomar conhecimento da publicação da poesia de Jorge Gomes Miranda no suplemento do DN, em 27 de Outubro, pelas edições do Teatro de Vila Real, decidi, pelas razões expressas no post scriptum do meu artigo Arte e Política, perguntar ao Director do Teatro de Vila Real (e direcção) o que o levava a publicar o «“grupo” de cá» e os de «Lisboa», com prejuízo da «criatividade local». Para o efeito, recorri ao site do Teatro de Vila Real, para me certificar e comprovar quem os publicados, então. Foi esta a base de informação de que parti. Utilizar o que foi publicado depois ou o que vai ser publicado no futuro é não só fugir à questão de fundo como jogar com o depois para justificar o antes. Apesar de o Director saber perfeitamente que Lisboa era, no texto, sinónimo de “fora” da Região, não deu conta de que ao rebater a minha mentira (ignorância, sim, mas não por culpa própria) mais demonstrou a verdade dela: afinal, Jorge Gomes Miranda, não era de Lisboa, mas do Porto! Assim, esquecer a informação disponível, no momento, no site do Teatro, dizer que o editado não era de Lisboa, mas do Porto, e explicar o anterior pelo depois (estribando-se, mesmo, no futuro!) é uma maneira perversa de argumentar. E onde a mentira de ter escrito que os editados pelo Teatro não tinham lugar nas editoras de Lisboa? Iriam eles, ou outros, rejeitar uma publicação oferecida, se toda a gente sabe da dificuldade em publicar poesia? Se outro mérito não tivesse, o meu questionamento teve o mérito de trazer para o domínio público parte da vida de uma empresa pública que tem andado, na sua vertente editorial, mais no domínio do particular. E ainda me goza, duplamente, por não saber a sua novidade editorial: Rui Pires Cabral! Será inocente o facto de a empresa municipal do Teatro de Vila Real, na sua vertente de publicações, em lugar de editar teatro, o que seria a sua vocação natural, editar poesia? Por que razão esta opção? Que motivos lhe estão subjacentes? E por que não se deu conhecimento público do programa editorial, logo, aquando do seu nascimento? O que pensamos é que esta prática editorial está longe da natureza e fins de uma empresa municipal que é servir, antes de mais, o concelho e os munícipes, e com o seu conhecimento e participação aberta.

(ii) Persecutório. Escreve o Director: «Para além de um desrespeito pelos critérios editoriais em causa ...». Não queria acreditar no que estava a ler. Primeiro, como posso desrespeitar os critérios editoriais, se não os conheço e não são do conhecimento público? Segundo, gravíssimo: criticar critérios nada têm a ver com o respeito ou com a falta de respeito, porque, em nome do respeito, calava a boca a toda a gente e, a mim, a caneta. Seria silenciar, ainda mais, o «espaço público» de que José Gil fala, em Portugal, Hoje, o Medo de Existir, e se queixa de ser ocupado pelos partidos e pelo ecrã. Não podia ter encontrado melhor axioma para fundamentar o «lápis azul». Cuidado: quando a Ética invade a Polis (Política), está aberto o caminho para os eixos do bem e do mal. Relativamente aos poetas, maiores, que cita, para se segurar (como lhe ficou mal!), por respeito por eles e pela poesia, fico pelo silêncio.

(iii) É ameaçador. Na parte final, tem outra deriva autoritária e dá outro salto perigoso: se, no início, usou o argumento do «lápis azul», acusando-me de «desrespeito pelos critérios editoriais», no final, acusa-me, por questionar os editados, de «pôr em causa a honestidade da pessoa editorialmente responsável». E, juridicamente, o meu acusador passa a meu melhor advogado: aquele que me acusa de possível dolo, absolve-me com a ignorância com que o pratiquei, ignorância que a devo a ele, pois, como munícipe, o pouco e mal que sei, da vida editorial referida, é, sempre, a posteriori. E se sei quando devo começar o combate, também sei quando o devo terminar: acabará quando os espaços culturais municipais locais forem públicos. E, nesse caso, terei muito gosto em cumprimentar aqueles que critico, porque nada de pessoal me move seja contra quem for, e habitar o espaço público com eles. E se alguma dúvida tivesse de que a minha intervenção o tivesse ferido na sua honestidade, seria o primeiro a reconhecê-lo publicamente. Lembro que distingo o autor Vítor Nogueira, que ontem, publicamente, elogiei e que hoje o reafirmo, da prática cultural, na vertente editorial, do Director do Teatro, que critico. Ao colocar-me na terceira pessoa («ele») e ao “tirar-me” do texto, mais me demonstrou. E, ao não falar (perdão, escrever) para mim, mas de mim, a consequência foi a inevitável: a escrita transformou-se num “mal dizer” d’«ele».

(iv) Adjectivação. Eu belisquei a sua importância e vaidade, a mim, adjectivou-me directa ou indirectamente de leviano, provinciano (não me deite(m) letras para os olhos. Ah!, quem o retórico?!), ressabiado e mente perversa. Quanto a ressabiado: alguém, que contestamos, tem melhor táctica para nos contestar do que a de nos chamar invejoso? Exigir direitos iguais, no plano cultural, é ser ressabiado! A do provinciano está boa! Só me faltava ser acusado de provinciano por defender a Cidade e a Região, e não a mim! A «mente perversa», que mais parece nascida de uma teoria da conspiração, é um bom exemplo do rigor lógico do Director: de uma eventualidade (acontecimento incerto) – «eventual gestão deficiente» –, deduz a «tese»! Leviano por não saber as biobibliografias dos editados e a editar pela editora do Teatro? Acertou. Ofensivo, por o questionar? Então, que chamar aos que questionam o questionar?

(v) O nuclear. No essencial, o que me levou, e leva, a questionar a prática editorial das publicações do Teatro de Vila Real é a contradição que subjaz à sua prática editorial: o não ser pública para os munícipes vila-realenses e o ser municipal para autores fora do município, ferindo, assim, o conceito e vida de empresa municipal e pública. Assim, não é o valor ou não valor dos editados e editáveis que está em causa e dos quais fez amplo panegírico, mas, logo, o próprio facto de que não são munícipes. A abertura a editáveis de fora da Região, nem que um só fosse, mesmo Nobel, e o fechamento local, com excepções para um grupo restrito, desfigura, perverte e subverte a natureza e finalidade de uma empresa que é municipal. Apesar de ser, em absoluto, contrário ao nome e, em parte, à natureza, reconheço que o Grémio Literário tem como objectivo cultural a Região. Ou quer-se substituir à IN-CM? Uma correcção: este confronto é mais do que uma «luta de ideias»: é uma luta pela sua sobrevivência. Este o meu crime. Ecce homo.