quinta-feira, 8 de março de 2007

O REGRESSO DE PORTAS

Escrevemos, aquando da demissão de Portas da presidência do partido, após a derrota do PSD e do CDS nas últimas legislativos, que Portas só voltaria à política para voos mais altos. No plano das intenções, assim parece acontecer. Depois da fase do luto, que ele não cumpriu, mas entregou a outros – foi a Ribeiro e Castro como podia ter sido a Telmo Correia ou a outro – ei-lo de volta, apesar de nunca verdadeiramente ter saído: se, partidariamente, calado (na Assembleia da República, nem piou), politicamente, continuou palavroso, graças às portas que a SIC Notícias lhe abriu, como comentador, no programa Estado da Arte, mas não com o sucesso esperado pelo canal e pelo comentador.

Então, o que traz Portas de volta? Se a agonia do CDS é o motivo, não é a razão: Portas não quer desperdiçar a porta aberta pela ausência de oposição à direita. E por ela quer entrar como candidato a líder de direita e da direita. Da direita, principalmente. Ele o disse: é preciso oposição do centro-direita a Sócrates e um líder que faça oposição. Como Portas, se pudesse, daria o salto do CDS para o PSD! Contudo, é precisamente este o salto que pretende dar, mas sob uma outra forma. E por que não tentar, se no circo da política a acrobacia não implica perigo, porque as quedas são amortecidas pela rede da memória curta? Apesar da táctica e do incentivo, que lhe foram dados por quem eu nunca esperava (Pulido Valente) – Portas, se for «subversivo» e não «populista, poderá vir a ser o líder da direita –, o objectivo não só é difícil de atingir como nos parece mais filho da fantasia do que de análise fria. E por várias razões: (i) como já escrevemos, a ausência de oposição, de direita, não reside em saber ou não saber fazer oposição, mas no facto de o PS de Sócrates ter ocupado o espaço de centro-direita e para o comprovar basta ver o apoio que este governo tem dos media, em geral; e sabendo nós quem eles representam, não vão, de certo, trocar Sócrates por Portas, se não trocam Sócrates por Marques Mendes (o pouco destaque que o DN e o Público lhe deram – este remeteu-o para a sexta página, sem qualquer referência na primeira – diz muito); neste momento, quem melhor serve política e economicamente os interesses do centro-direita é o executivo de Sócrates; (ii) assim, a revolução que Portas pode trazer não é de conteúdo, mas de forma; como pode criticar as políticas de Sócrates, se elas são de direita? Formalmente, sim, pois Marques Mendes, amordaçado pelas políticas de centro-direita de Sócrates, não tem sido nem formal nem materialmente oposição visível; (iii) contudo, a reentrada em cena de Portas, e principalmente com esta agenda política em mente, não vai deixar o PSD quieto e mudo (Marques Mendes que se mexa e cuide); e, se Portas tiver algum sucesso, bem poderá obrigar o PSD a fazer um congresso extraordinário e a encontrar um novo líder (ou uma líder, não estão as mulheres na moda?), que torne, pelo menos, o PSD visível, caso não caia no suicídio de entregar o PSD nas mãos de Menezes, e a não ficar à espera que a cicuta do poder “mate” Sócrates.

O golpe de Sócrates foi governar à bloco central, sem precisar de alianças com o PSD. A oposição só pode vir do PCP, do BE e do interior do PS, porque acabou com a de direita, só que o PS é o seu líder e o aparelho, salvo duas ou três excepções, trocou as referências ideológicas pelo poder. Como quer Portas ser o político da direita, se, além de ter de se substituir ao PSD, a direita está com Sócrates, embora com o cartão do PSD, no bolso e, se calhar, com as cotas em atraso? Mais de que cumprir uma missão impossível, Portas parece cumprir, uma vez mais, a sua missão: agitar. Portas é o hiper-activo da “nossa” política. E, no morno em que isto está, tem mais a ganhar do que a perder. E que vai enervar Sócrates e tudo fazer para que ele perca a cabeça, vai.