sexta-feira, 2 de março de 2007

A POLÍTICA DO DIA SEGUINTE


Sócrates não desarma: depois de, nas Jornadas Parlamentares, ter proclamado o PS de partido «progressista» (a necessidade de o dizer não reflectirá a ausência de o ser?), pelo contributo que deu para a despenalização do aborto até às dez semanas, não tardou, receoso que a ideia fecundasse, a fazê-la abortar com a política «do dia seguinte» de direita.

Após a vitória do sim no referendo sobre a despenalização do aborto, houve dois acontecimentos, que passaram despercebidos (?), que eu saiba, à grande imprensa, aos seus comentadores e colunistas residentes e que passo a referir: (i) José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, nas Jornadas Parlamentares do PS, deixou, porque sem ponto, que o seu inconsciente falasse livremente e sem freio: ...caros camaradas, agora, quero dizer-vos «do fundo do meu coração» que «talvez» não tenha vivido uma noite como a de domingo (noite do referendo) e pensei que o PS bem merecia ser classificado de partido «progressista»! Talvez? Como esta frase, principalmente a palavra «progressista», é, psicológica e psicanaliticamente, a «chave» para “entrar” em Sócrates. Fiquemos pelo essencial: José Pinto de Sousa, primeiro-ministro, ao adjectivar o PS de «progressista» (categoria política fundamental da terminologia política de esquerda), pela adesão à causa da despenalização do aborto, demonstrou, sem querer, o seguinte – aquele que é, há dois anos, o primeiro responsável pelo ataque ao Estado Providência, aproveitando o fantasma do défice, é o mesmo que se regozija do «fundo do coração» de o PS ser um partido “progressista” num fim de semana! Como ele se sentiu feliz por ser socialista (a sério ou a fingir?) naquela noite, depois de um jejum socialista de dois anos de governação! Ao tentar ocultar a prática política de centro-direita do seu governo mais a reconheceu. Quererá ele, à semelhança do seu ministro da saúde convidar-nos para entrar para a caravana que quer varrer urgência como varreu maternidades e a gratuitidade do sistema nacional de saúde? (ii) quando li no Público virtual (12-2-07), mas que não vi no impresso (!) o seguinte – «A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) classificou hoje de ilegal a proposta da tutela referente ao primeiro concurso para professor titular, alegando que o critério da assiduidade discrimina os docentes que estiveram doentes ou de licença de maternidade (sublinhado, nosso). Segundo a proposta do Ministério da Educação (ME), o processo de selecção para a categoria de titular, a mais elevada da nova carreira, vai ter em conta todas as faltas, licenças e dispensas dos candidatos entre os anos lectivos 2000/01 e 2005/06, mesmo que tenham sido dadas por doença ou maternidade (sublinhado, nosso), por exemplo» – não queria acreditar!

O PS “progressista” de José Sócrates Pinto de Sousa que se bateu pela IVG no dia 11 de Fevereiro é o mesmo que, «no dia seguinte», penaliza a maternidade: a licença de maternidade é considerada falta e descrimina as mulheres que foram mães, para o acesso a professor titular. Aos tradicionais métodos de contracepção o PS “progressista” do engenheiro, pela Universidade Independente, José Sócrates junta a medida “progressista” de punir as mulheres que tenham filhos, sendo o tempo de licença de maternidade considerada como faltas dadas!
Post scriptum. Leio, em destaque na primeira página, num diário: «Despedimentos de grávidas não param de aumentar». Onde está o «sim» à vida e o partido “progressista” de Sócrates? Como o «dia seguinte» é terrível!