quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
«Catano, nunca mais sou atendida!», ouço uma senhora a resmungar, numa mesa do café, mesmo ao lado da minha. Até que enfim ouvi uma palavra que não ouvia nem dizia há muito: catano! Ouvir e pronunciar uma palavra, há muito esquecida, é como ver alguém que não víamos há anos. Demoramos sempre algum tempo a reconhecê-la. As palavras, como nós, também envelhecem e deixam de ser precisas. Contudo, elas ainda ficam no dicionário. E nós ficamos aonde? Que será feito da nossa memória, quando os nossos netos se esquecerem de nós? Quem nos vai reconhecer num álbum, que alguém encontre no sótão do tempo? Como a “memória eterna”, que lemos numa campa, tem a brevidade das flores que nela colocam! Memória e flores, a mesma brevidade. Catano, que não valemos nada!