domingo, 6 de abril de 2008

Apontamentos

1- O socialista Jorge Coelho, na linha de outros políticos do centrão, como Ferreira do Amaral, vai assumir um importante lugar de gestão no maior grupo de construção do País – Mota-Engil –, empresa que integra o sector que tutelou enquanto ministro das Obras Públicas. O ministério, longe de ser um sacerdócio político, é o estágio para a gestão empresarial. Li hoje num diário que 50% das empresas privadas têm ex-políticos como gestores. E por que será, se estão muitas vezes em sectores que não dominam? «Para darem continuidade ao trabalho que iniciaram no governo», responde-me Luís Afonso no Bartoon. Economicamente, trocar a vida partidária e a “quadratura do círculo” por um lugar de chefia na gestão da Mota-Engil é muito mais aliciante. O dinheiro nunca é demais. Quando ao défice democrático e socialista, outros que tratem dele.

2- O ministro da cultura, Pinto Ribeiro, na apresentação pública do projecto Ruas da Cultura, em Montemor o Velho, defendeu um estudo sobre o valor económico da língua portuguesa. E como quem descobre uma Índia: já pensaram no «valor económico único» de um autor como Fernando Pessoa? Pergunta que não deixa a resposta em boca alheia: «É possível que Pessoa, enquanto produto de exportação, valha mais do que a Portugal Telecom». Isto contado ninguém acreditava. Com o País pelas Ruas da Amargura, o ministro da Cultura vê em Pessoa o filão que pode levar-nos às Ruas da Fartura. Já agora, por que não pôr Pessoa na Bolsa e fazer uma troca entre o ministério da economia e o da cultura? Manuel Pinho passava para a cultura (não são os nossos escritores os verdadeiros empresários?) e Pinto Ribeiro para a economia (a nossa economia não é um mito?).

3- Paul Ekman, Professor de Psicologia do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, nos EUA, é um expert na detecção de mentiras, graças a uma ferramenta que elaborou – Micro Expression Training Tool (METT) – que como o nome diz detecta a mentira através da análise das micro expressões faciais. Como não podia deixar de ser, Ekman é consultor do FBI e da Scotland Yard. Em entrevista ao Público, de 4 de Abril de 2008, pela sua passagem por Portugal, onde participou no simpósio Aquém e Além do Cérebro, promovido pelo BIAL, no Porto, afirmou que «ninguém votaria num político que não fosse capaz de mentir». Ora aqui está uma janela, como agora sói dizer-se, para lermos atentamente as expressões faciais de Sócrates nas próximas eleições. Contrate-se o homem, já!, para não sermos levados por lorpas, pela segunda vez.